terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Isabella Nardoni - Pai, por que você me matou?


Por que, pai?

Por que, pai?

Pai: primeiro você se afastou de mim. Eu sofri porque os pais de minhas colegas iam levá-las e buscá-las no colégio, e moravam com elas na mesma casa; viviam todos juntos formando uma família completa.

Foi duro a separação; é dura a separação sim, e eu sofri. Mas, entendi depois quando conheci outras coleguinhas que, iguais a mim, também não tinham os pais todos os dias com elas; também iguais a mim essas colegas não tinham os pais levando-as e buscando-as no colégio.

Apesar de criança entendi que pai e mãe podem se separar sim; entendi que é melhor se separar do que assistir as brigas, as divergências, as crises eternas que faziam o meu sofrimento maior. Entendi e já tinha me acostumado – afinal, de quinze em quinze dias podia vê-lo; podia ficar com você; podia acordar e vê-lo perto de mim.

Você se casou novamente e eu tenho dois irmãos; meus irmãos por parte de pai. Claro, sou a única mulher e você sabe que mulher faz charminho e eu fiz; confesso que fiz. Mas, não sabia que isso iria aguçar a ira de minha madrasta; não sabia que minha madrasta era tão ciumenta ao ponto de não perceber que o meu amor por você era amor de filha - de filha carente, sem referência masculina em casa.

É triste, pai, ser criada sem pai. É triste, mas, já falei que entendi. Nos raros momentos em que estávamos juntos eu aproveitava o máximo; exigia o máximo porque era só aquele momento; era só aquele final de semana de quinze em quinze dias – que eu aguardava com a ansiedade de criança.

Eu fui crescendo e todos diziam que parecia com minha mãe; que tinha também alguma coisa de você, mas era tão bonita quanto minha mãe. E eu não sabia que isso iria aguçar a ira de minha madrasta contra mim; não sabia que o ciúme dela chegaria a tal ponto de me ter como inimiga, alguém que deveria ser eliminada.

Pai, eu juro que fazia tudo para chamar a atenção apenas por carência. Nunca pensei em competir com minha madrasta – eu era apenas uma criança, pai.

Agora que já não estou mais aí com vocês; agora que já não faço parte desse mundo, minha madrasta deve estar tranqüila – e você está? Eu quero que você esteja bem, apesar de tudo.

Pai, eu só não entendo uma coisa: por que você arranjou advogados para mentirem; para contarem o que não se passou e com a sua colaboração – a sua colaboração, a colaboração do meu avô...por que, pai?

Além de me tirar o direito à vida, vocês me tiraram o direito de ter uma morte sossegada. Fui esganada e trucidada por mãos covardes e assassinas; pelas mãos de minha madrasta covarde e assassina, e ainda assim vocês não se deram por satisfeitos – e eu continuei sendo trucidada vendo daqui minha história triste exposta pela mídia; vendo daqui meu sofrimento prolongado.

Pai, não foi demais asfixiar-me? Não foi demais jogar-me do sexto andar? Não foi demais meu corpo de menina, ainda em formação, chocando-se violentamente no solo duro? Meus ossos se partindo? Minha cabeça espatifando-se?...Ah! Pai, quanta dor sofri.

O que eu fiz para merecer tanto sofrimento, pai? Eu era apenas uma criança e tinha muitos sonhos – e você acabou com todos os meus sonhos...

Pai, por que você foi tão covarde? Por que você me matou?

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